Sobrevoe as mais belas capitais do mundo na trilha do mais fantástico cenário que harmonize, a um só tempo, construções urbanas e um relevo com paisagens naturais de tirar o fôlego, vistos de cima. Paris? Veneza? Praga? Tóquio? San Francisco? Convenhamos, neste contexto, não tem para mais ninguém. Dos céus, sobretudo, o Rio de Janeiro é fantástico!
A área urbana e as edificações da ex-capital nacional – batizada à beira de uma baía, que os portugueses tomaram por rio – vêm erguendo-se, ao longo dos séculos, em meio a um mosaico de acidentes geográficos paradisíacos: lagos, montanhas, restingas, enseadas, arquipélagos, lagoas, baías, riachos, vales, cachoeiras e de quebra formações rochosas de formatos bem peculiares com picos de até de mil metros de altitude, cujos pés banham-se no mar. E que mar…
Ocorre que a vista da janela de qualquer avião, por mais avassaladora, nunca será suficiente. A imersão genuína às paisagens cariocas requer mais disposição e esforço. Hão de ser merecidas! Conquistadas a pé nas inúmeras trilhas que recortam a cidade.
E nada melhor para entender a complexa distribuição socio-geográfica do Rio do que começar conhecendo-o de cima. Vivenciar o que a capital carioca tem de melhor, harmonizando-se às belezas naturais mais intocadas, desbravadas por cenários de deixar o queixo caído.
A seguir, a seleção desse escriba com as cinco mais belas vistas do Rio de Janeiro, acessadas a partir das trilhas da cidade. De níveis de dificuldade distintos, aqui tem trilha para todo gosto e disposição, nas zonas Sul, Norte e Oeste.
Trilha do Pico da Tijuca
Um dos picos de vista mais abrangente na cidade, até por ser o ponto mais alto da Floresta da Tijuca (1021 m) e o segundo maior do Rio de Janeiro. De lá dá para avistar as mais famosas formações montanhosas e os tradicionais pontos turísticos do Rio de Janeiro, como o Corcovado, olhando para baixo. Não é pouca coisa. É uma fantástica vista panorâmica que abrange boa parte das
zonas Norte e Sul.
Apesar da altitude, não é um percurso íngreme. Começando já a 660 m, essa que é considerada a trilha marco do Ecoturismo brasileiro – cuja primeira sinalização data do século XIX – costuma a ser percorrida em cerca de uma hora e meia. O resultado é recompensador. Vale muito a pena!
Localizado no epicentro do Parque Nacional da Floresta da Tijuca, a maior floresta urbana do mundo, a trilha do Pico da Tijuca pode ser emendada a outros destaques do Parque, que por si só já valeriam a pena. É muito bem sinalizada e de fácil acesso, a partir do Largo do Bom Retiro, onde se chega de carro ou a pé, a partir da entrada principal do Parque no bairro do Alto da Boa Vista.
Trilha da Pedra da Gávea
Considerado o maior bloco de granito gnaisse à beira mar do mundo, a Pedra da Gávea foi assim batizada pelos portugueses, graças às “gáveas” das embarcações lusitanas, geralmente localizadas no ponto mais alto da nau (lembra aquele cesto onde o marujo grita ‘terra à vista’?)
O lado da Pedra oposto ao mar aparenta o formato de um rosto, conhecido como “Cabeça do Imperador”, sempre esteve envolto de mistérios. Há especulações, e mesmos estudos, referindo-se à chegada de Fenícios à Pedra da Gávea na antiguidade, o que explicaria as inscrições na rocha e o rosto supostamente esculpido.
O caminho que segue até a Cabeça do Imperador adentra a Mata Atlântica. Em meio a árvores centenárias, ruínas históricas, grutas e panoramas espetaculares. Essa trilha, porém, não é para iniciantes. São aproximadamente 3 horas de muita subida num percurso de 1670 metros que começa ainda próximo ao nível do mar.
Do alto de seus 844 m, porém, o visual do litoral carioca faz o esforço e a coragem valerem a pena. Uma experiência única em função do cenário exuberante do encontro da orla com as escarpas do maciço da Tijuca. Lá de cima é possível avistar as praias da Zona Sul e da Barra, a baixada de Jacarepaguá, a baia de Guanabara, e em dias com boa visibilidade até mesmo o Dedo de Deus, em Teresópolis. A trilha é acessada pelo bairro de São Conrado, no final da Estrada do Sorimã. Aos iniciantes é recomendado o auxílio de um guia.
Trilha da Pedra Bonita
Também parte do Maciço da Tijuca, o topo da Pedra Bonita chega a 696 metros. É um dos mirantes de mais fácil acesso. Um passeio indicado àqueles que não têm muita experiência em trilhas, mas ainda assim querem desfrutar de uma bela vista num dos terraços naturais do Rio.
De fato, o cume é largo, sobre uma laje de pedra, e permite uma imagem deslumbrante do litoral. Dele, avistamos a Pedra da Gávea, o Morro Dois Irmãos e praias das zonas Sul e Oeste. O tempo médio de subida até o topo é de aproximadamente 40 minutos, percorridos com calma ao longo de uma área de mata reflorestada. O início trilha localiza-se no final da estrada de acesso à primeira e mais importante rampa de voo livre do País, de onde diariamente saltam inúmeros parapentes e asas-deltas rumo a Praia do Pepino.
Assim, de quebra, o passeio a este pico fantástico, ainda pode conjugar uma visita à rampa de voo, sempre muito movimentada. Depois de subir até lá em cima, quem sabe não bate a vontade de você descer voando? Já emendaria logo num banho de mar, hein!
Trilha da Pedra do Telégrafo
Essa é desconhecida inclusive de muitos cariocas, até mesmo pela distância dos destinos mais populares da cidade. Mas vem ganhando fama depois do sucesso no compartilhamento em redes sociais de fotos de trilheiros, pendurando-se na ponta da Pedra em questão, sobre um despenhadeiro altíssimo, cujo chão é um litoral paradisíaco selvagem.
A foto na verdade é, digamos, uma fraude, já que logo abaixo da Pedra há um platô, ao alcance dos pés (mas não da lente do fotógrafo fanfarrão). Mas o visual é de tirar o folego mesmo. Do alto da Pedra do Telégrafo (354 m) é possível ver, além das poucas praias ainda selvagens do Rio (praia do Meio, do Inferno, do Fundo e do Perigoso), o litoral de Grumari, do Recreio dos Bandeirantes, da Barra da Tijuca e a Pedra da Gávea.
Do lado oposto, a Restinga da Marambaia e o manguezal completam o quadro panorâmico. Localizada no Parque Estadual da Pedra Branca, em Barra de Guaratuba, o local serviu de base para um destacamento militar de observação de submarinos durante a Segunda Guerra Mundial e é bem longe do centro ou da Zona Sul carioca. O acesso à trilha se dá pelo chamado Caminho dos Pescadores, na Praia de Guaratiba, por onde se chega através da Estrada Roberto Burle Marx, conhecida como Estrada Velha de Barra de Guaratuba.
Da Pedra do telégrafo, aproveite para descer também a essas praias intocadas, cujo acesso se dá exatamente na continuidade da trilha. Acredite, há praias desertas no Rio de Janeiro. Elas existem e são maravilhosas.
Trilha do Morro da Urca
Essa é a trilha xodó de todo carioca. A mais básica e de fácil acesso. Está localizada nas imediações de um dos bairros mais charmosos do Rio, Urca, e é acessada pelo agradabilíssimo “Caminho do Bem-te-vi” (Pista Cláudio Coutinho), que margeia a não menos bela Praia Vermelha.
O grande barato é exatamente subir um dos maiores ícones do Rio de Janeiro – o morro da Urca é aquele mais baixinho dos dois morros que erroneamente chamam de Pão de Açúcar – a base do esforço de suas pernas.
Que nem é lá muita coisa, já que não é muito difícil encontrar crianças fazendo este percurso, que toma algo entre 20 e 30 minutos. Dá para subir e de lá pegar o bondinho para o Pão de Açúcar (o morro mais alto); subir pela trilha e descer de bondinho até a Urca; ou somente subir e descer pela trilha.
Bacana mesmo é conjugar uma caminhada em todo o Caminho do Bem-te-Vi, subir o Morro da Urca pela trilha, pegar o bondinho para o Pão de Açúcar e depois ainda fechar ‘a conta’ com umas remadas de Stand Up Padle na Praia Vermelha. Programão, hein?
O Morro da Urca fica na zona Sul do Rio de Janeiro, região bem servida de transporte público. Não há necessidade, nem é indicado, chegar lá de carro.
*Matéria originalmente publicada no site Skyscanner pelo mesmo autor.
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