Reino Unido, Inglaterra, Grã-Bretanha, Bretanha, Ilhas Britânicas… Quem é quem, afinal?

Podia ser mais simples, não?

Não. Do contrário, não seriam britânicos…

Com todo o respeito, e isso já foi abordado nesse post sobre o Reino Unido, mas a gente bem nutrida que legou Shakespeare, Sherlock Holmes, James Bond e o Pink Floyd ao mundo tem um talento inato para dar uma complicada Real em tudo.

Achou grosso? Vai tentar entender aquele sistema de medida imperial bacana (jardas, pés, ounce, polegadas…) enquanto assiste a um jogo de cricket na TV! Depois me conta.

Mas, não adianta. Nós os amamos. Perdemos horas de nossas vidas esquentando a cabeça para decifrar seus enigmas, assistindo noticiários e séries de fofoca sobre as frescuras da família real, babando pelos ídolos do melhor rock do mundo e, vez por outra, até fingimos compreender o que faz, até os dias de hoje, canadenses e australianos ajoelharem-se perante uma rainha estrangeira.

Mas a ideia deste post é desatar só mesmo um nó desse carretel, que confunde muita gente: a dúvida recorrente entre as diversas designações das divisões políticas, nações e ilhas britânicas. Shal we?

Ilhas Britânicas

Ilhas Britânicas - Reino Unido

Em destaque, acima, está o arquipélago das Ilhas Britânicas. Ele é composto basicamente por duas grandes ilhas: a maior, à direita, ilha da Grã-Bretanha, e a menor, à esquerda, ilha da Irlanda. Há ainda outras três pequenas, as ilhas de Man, Jersey e Guernsey (dependências exclusivas da Coroa Britânica), além de outras ainda menores que não vem ao caso.

Mas por que Ilhas Britânicas, se a Irlanda também está ali? Essa é a primeira confusão. O termo “Ilhas Britânicas” é usado há quase dois mil anos. Atualmente, poderia ser interpretado como um anacronismo e, mesmo, ofensa potencial, já que o arquipélago das Ilhas Britânicas inclui não apenas o Reino Unido mas também a República da Irlanda (independente), que não reconhece o termo.

Ainda assim, enquanto ninguém largar o chá das cinco e arrumar outro termo, para todos os efeitos, o nome “Ilhas Britânicas” continuará valendo e abrangendo todas as ilhas. Certo?

Bretões, Bretanha e Grã-Bretanha

Reino Unido Reino Unido, Inglaterra, Grã-Bretanha, Bretanha, Ilhas Britânicas... Quem é quem, afinal?

A maior ilha do Arquipélago das Ilhas Britânicas é a da Grã-Bretanha. Ela não é um país. É, tão somente, uma ilha. Com cerca de 230 mil km2, a ilha da Grã-Bretanha é a maior do arquipélago e de toda a Europa. E a oitava maior do mundo.

O nome Bretanha é derivado do latim Britannia, usado pelos Romanos (quando a conquistaram lá pelos idos do séc. I d.C.) para descrever essa porção de terra, então habitada (em sua maior parte) pelos Bretões, um grupo étnico de origem celta.

Ocorre que, com a posterior invasão anglo-saxã a ilha, os bretões emigraram (entre os séculos IV e VI) para o noroeste da França, batizando esse outro local de… Bretanha.

Desde então, para complicar ainda mais, a Bretanha não fica na Grã-Bretanha, mas na França!  

O Reino da Grã-Bretanha

O nome composto Grã-Bretanha (tradução literal de Great Britain) veio bem depois, quando os três reinos da ilha, então independentes, passaram a se submeter a uma só Coroa. Intencionalmente ou não, o fato ao menos ajudou a distinguir a ilha da “Bretanha francesa”.

Mas que três reinos são esses? Justamente os três independentes que dividiam a ilha antes de virarem um só: Inglaterra, País de Gales e Escócia.

A Reino da Inglaterra foi estabelecido em 925 com a unificação das tribos anglo-saxãs do Sul da ilha. No séc. XIII, os ingleses absorveram o Reino do País de Gales (sudoeste da ilha) e, em 1707, uniram-se ao Reino da Escócia, ocasião em toda a Ilha de Grã-Bretanha passou a ter só um monarca para chamar de seu. Nascia, na ocasião, o Reino da Grã-Bretanha (The Kingdom of Great Britain).

Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda

Gulosos que são, os ingleses não ficaram satisfeitos. Em 1801, anexaram também a Irlanda. A invasão deu origem ao Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda. Ocasião única em que as Ilhas Britânicas foram, enfim… britânicas. Todas!

Parecia perfeito, mas não para os irlandeses. Pediram o divórcio pouco depois das núpcias. O que também não foi simples já que a outra parte bateu o pé e a separação foi a litígio. Em outras palavras, deu em muito sangue derramado. Depois de três anos de DR, em 1922, os irlandeses conseguiram a independência. Puderam, enfim, encher a goela de Guinness até não aguentar mais (ou seja, estão bebendo até agora).

Uma pequena porção do norte da ilha da Irlanda (região de Ulster), porém, de maioria Protestante (ao contrário do resto da Irlanda, majoritariamente católica), permaneceria sob o domínio britânico, cindindo a ilha da Irlanda em duas, com uma cicatriz que, até hoje, expõe suas dores.

THE BLOODY SUNDAY

Essa é a hora que inevitavelmente nos lembramos de Sunday Bloody Sunday. A música do U2 refere-se ao incidente ocorrido em 30 de janeiro de 1972 em Derry, Irlanda do Norte, que ficou conhecido como o “Domingo Sangrento”.  Na ocasião soldados britânicos atiraram em civis irlandeses desarmados que protestavam pacificamente contra os ingleses.

O que poucos sabem, no entanto, é que, onze anos antes do U2, John Lennon compôs e gravou uma música de mesmo título, "Sunday Bloody Sunday", exatamente em referência ao “Domingo Sangrento” na Irlanda do Norte! Mas... com todo respeito ao mestre beatle, nessa os irlandeses se deram melhor.  Talvez seja mesmo o “lugar de fala”. Aumenta o som aí! 

Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte

Eis que, enfim, nasce um novo reino de nome gigante, digno de monarca mesmo: Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte (United Kingdom of Great Britain and Northern Ireland). Como o ar acaba antes de terminar a frase, abreviamos para Reino Unido. (United Kingdon ou, seu acrônimo, UK).

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Mas e a Inglaterra? Não é um país?

E o que seria um país, afinal? A resposta, surpreendentemente, é bem mais complicada do que parece. No dicionário está claro: uma aérea política, social e geograficamente demarcada”. Na prática, porém, esse “consenso” não é tão efetivo.

Quer a prova? A ONU possui 193 países membros, mas a FIFA, 211! O Comitê Olímpico Internacional, por sua vez, reúne 206 e se você solicitar um visto para os Estados Unidos, pode contabilizar que há mais de 250 opções de países no menu “país de origem” do site do governo.

Até hoje, tanto a Inglaterra quanto os demais (Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte) recebem o status de país, ou, o termo mais adequado, “nações constituintes” (home nations) do Reino Unido. Sobretudo em competições esportivas internacionais. Não à toa você nunca viu a seleção do Reino Unido na Copa do Mundo, mas a da Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte… (É, você nunca vê a do País de Gales também, mas aí é por que ele nunca se classifica)

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Isso ocorre, dentre outros motivos, pela complexa história da formação do país e pela curiosa ausência de uma constituição formal britânica com uma denominação oficial clara para cada um dos quatro. Tempo, hábito, costume (e provavelmente o poder de influência da Inglaterra) terminaram por forjar esta situação insólita: um país de quatro países.

Estado soberano, no entanto, só há um: o Reino Unido. É ele a única entidade listada em organizações intergovernamentais. O único com representação na ONU e embaixadas mundo a fora. É ele, por exemplo, que emite os passaportes de todos os cidadãos britânicos. Em Edimburgo ou em Londres, não há passaporte inglês ou escocês.

Outro exemplo: lembra do Brexit? Pois bem. Quem saiu da União Europeia foi o Reino Unido! A Inglaterra, por si, não teria esta prerrogativa, pois não é soberana. Nem ela nem os outros três.

Ainda confuso? Anota, aí!

Reino Unido


Abreviação do Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte, estado soberano que inclui Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte. Apesar de contraditório, é usual dizer que o Reino Unido é um país que reúne quatro países. Mas o único estado soberano, de fato, é o Reino Unido.

Grã-Bretanha


Uma ilha situada na costa noroeste da Europa e inclui Inglaterra, Escócia e País de Gales.

Inglaterra


Apesar de receber o status de país (o que a leva, por exemplo, a ter uma seleção de Copa do Mundo) a Inglaterra é, na prática, uma região/nação pertencente a um estado-soberano que reponde por ela em tudo que diga respeito às suas relações internacionais.

Bretanha


Região administrativa (província) do noroeste da França entre o Canal da Mancha e o Oceano Atlântico. Quem nasce na Bretanha, naturalmente, é francês.

Irlanda


República da Irlanda, país independente que não pertence ao Reino Unido. Mas também pode referir-se ao nome da ilha como um todo, a ilha da Irlanda (que compreende a República da Irlanda e a Irlanda do Norte).

Ilhas Britânicas


Termo que nomeia oficialmente o arquipélago que reúne todas as ilhas do local, as ilhas da Grã-Bretanha, Irlanda e todas as outras menores das imediações. Ainda que esta denominação seja controversa, por incluir um estado autônomo não-britânico, a República da Irlanda, ainda é o termo utilizado.

***

E se, depois disso tudo, ainda te restar alguma dúvida, esse vídeo bacana que eu achei nas minhas pesquisas reais é o maior barato para ajudar a te confundir ainda mais. Ele é bem curtinho e, ainda que você domine o inglês, sugiro ativar as legendas.

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Daniel Marinho

Editor do Escriba de Bordo

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Respostas de 2

    1. Esse assunto sempre me tirou o sono mesmo rs E nada melhor do que inventar uma pauta sobre algo novo para aprender!

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