Na hora de montar os roteiros para flanar pelo Rio, quem vem de fora sempre esbarra naquela máxima recorrentemente bradada até pelos cariocas: o Rio é uma cidade muito cara! Então, o que fazer?
Até certo ponto é verdade, mas, na boa, as melhores coisas do Rio, as experiências mais intensas e afinadas ao espírito carioca, e, sobretudo, às belezas naturais da cidade, são em sua maioria gratuitas. Pode acreditar!
Poucos lugares dispõem de tantas cartas na manga quando o assunto é: “Programas 0800 que valem a pena”. Fica até difícil selecioná-los, já que as boas opções são inúmeras.
Enfim, segue uma seleção carioquíssima no espírito Rio de Janeiro de graça! Foi necessário estabelecer alguns critérios para afunilar a seleção. Praia, por exemplo, não vale! São muitas e todas, naturalmente, de graça. Trilhas, idem. Fugimos também de roteiros muito batidos ou famosos, afinal a ideia aqui é somar e contribuir com o que, para muitos, ainda pode ser uma novidade. Mas não é qualquer novidade, não… Esse escriba aqui capricha!
Rio de Janeiro de graça
1. Parque das Ruínas (Santa Teresa)
Quase no topo do bucólico bairro de Santa Teresa, um belo palacete de pedras aparentes e estruturas de vidro e aço reina no alto da cidade sob a brisa da baía de Guanabara. São os resquícios, cuidadosamente reformados, do Palacete Murtinho Nobre, erguido entre 1898 e 1902. Na década de 20, o casarão virou um ponto de efervescência do Modernismo no Rio de Janeiro.
Festas e saraus reuniam os proeminentes “moderninhos” da época como Villa Lobos, Isadora Duncan e Tarsila do Amaral. Hoje, com um belo café (Café Ruínas), teatro, galerias de exposição, palco externo, extensas áreas de jardins, terraços panorâmicos e um mirante com vista privilegiada da região do Centro, Lapa e todo o contorno da Baía de Guanabara, tornou-se uma das melhores (boas) surpresas da cidade. Um dos locais mais sossegados e charmosos do Rio.
A boa pedida aqui é aproveitar e dar uma trégua ao lado mais urbano da segunda maior cidade do País e estender o passeio às ruas do bairro mais bucólico e artístico do Rio: Santa Teresa.
2. Cachoeiras do Horto (Horto/Jardim Botânico)
Nem só de praia vive o carioca. E não é de se estranhar: uma cidade cercada de morros e riachos haveria de ter também inúmeras quedas d’água. Elas existem e estão em diversos pontos da cidade. Mas um circuito bem especial é o das cachoeiras do Horto, na Zona Sul. Uma sequência de quedas d’água e poções, dentro dos limites do Parque Nacional da Tijuca.
Acessadas pelo bairro do Jardim Botânico, as cachoeiras do Horto são uma ótima alternativa às praias lotadas, sobretudo no verão. As mais conhecidas – cachoeiras do Chuveiro, da Gruta, dos Macacos, dos Primatas – estão a apenas uns 15 a 30 minutos de caminhada, a partir da entrada das trilhas, na Estrada Dona Castorinha.
É fácil chegar de ônibus ou carro, mas não de estacionar. Um banho nas cachús cariocas é revigorante! E, nesse caso, um tanto inusitado, dada
a proximidade destes paraísos da floresta nativa com o corre-corre das ruas e avenidas dos bairros de alta densidade demográfica ao seu redor. Enfim, coisas do Rio de Janeiro.
3. Chorinho da Rua General Glicério (Laranjeiras)
Taí outra joia rara desconhecida da maioria dos turistas. Localizada em uma área residencial do bairro das Laranjeiras, a roda de choro da Feirinha Artesanal da Rua General Glicério é um achado.
Esta rua em si já é uma das mais pitorescas da cidade graças beleza de seus jardins, calçadas e suas edificações da década de 40. Mas é nas manhãs de sábado, a partir do meio-dia, que, junto a uma feirinha de artesanato, aos salgadinhos e drinks especiais das barraquinhas, que os moradores da região se reúnem para assistir a tradicional Roda de Choro da Feirinha, com “chorões” da mais alta qualidade.
Gênero de música popular e instrumental brasileiro que surgiu no Rio de Janeiro em meados do século XIX, o choro é considerado o primeiro estilo musical, essencialmente urbano, tipicamente brasileiro. E quem quiser entender o espírito carioca original tem de ir a uma roda de choro. Que então, seja a mais agradável da cidade! Vale a pena!
4. Mirante Dona Marta (Botafogo)
Quer ter a melhor e mais bela vista do Pão de Açúcar, em poucos minutos, sem enfrentar fila ou pagar ingresso? Então pega o carro, taxi ou Uber e se manda para este lugar! Não tem ônibus, mas também não é tão longe assim de nenhum lugar, quando se está nos arredores do Centro do Rio.
O mirante fica no alto Morro Dona Marta, cercado pelos bairros de Botafogo, Flamengo, Laranjeiras e Cosme Velho, uma das regiões mais bonitas do Rio. Apesar dos seus 362 metros de altura – relativamente baixo quando comparados aos outros picos na região – o mirante está numa posição bem estratégica e, somando-se ao heliporto no lado oposto, termina por propiciar uma vista generosamente ampla abarcando norte, sul, leste e oeste.
O panorama é maravilhoso. Boas fotos por lá são garantidas! A vista do Pão de Açúcar é inclusive, na opinião de muitos fotógrafos profissionais, a melhor da cidade. O local também está próximo de outros destaques do Parque Nacional da Floresta da Tijuca, como o belo caminho das Paineiras, o Mirante da Vista Chinesa e o Mirante da Mesa do Imperador.
5. Instituto Moreira Salles / IMS – Rio (Gávea)
Fotografia, música brasileira, literatura e cinema reúnem-se nesse casarão modernista que repousa sobre um terreno de 10 mil metros quadrados, emoldurado pela Mata Atlântica e pelo paisagismo de Roberto Burle Marx, no bairro da Gávea.
Seria apenas mais um centro cultural como outro, não fosse o IMS-Rio um verdadeiro oásis de beleza e tranquilidade na cidade. As exposições são sempre maravilhosas, o café/restaurante, um show à parte, a curadoria do cinema para lá de especial, mas o lugar por si só já valeria a pena. E, como não é assim tão conhecido, o lugar (onde até o estacionamento é gratuito, raridade hoje em dia) terminou por tornar-se uma joia rara para os que o descobriram.
Não tem erro, conjugue o programa cultural com um passeio sob as belas árvores do pátio do IMS após um café no Empório Jardim, que ocupa o lugar da antiga cozinha da residência dos Salles. Experimente e você ainda vai se lembrar deste post!
6. Caminho do Bem-te-vi (Urca/ Praia Vermelha)
Margeando a pequena e bela Praia Vermelha, na Urca, está provavelmente a mais agradável e exuberante pista de caminhada no Rio – e olha que a concorrência é forte.
Com o nome oficial de “Pista Cláudio Coutinho”, a via exclusiva para pedestres recorta uma área reservada com encostas rochosas de um lado e o mar de outro contornando parte dos morros da Urca e Pão de Açúcar. Com uma extensão de 1,25, a pista é uma espécie de “highline tropical” que parece ter um mirante a cada passo. Aberta diariamente, das 6h às 18h, a partir dela é possível acessar algumas trilhas bem bacanas, como a que chega ao topo do Morro da Urca, por exemplo.
Há bons restaurantes nas proximidades, como os do Circulo Militar. Uma ida ao Caminho do Bem-te-vi pode ser estendida a uma subida ao Pão Açúcar (por trilha, escalaminhada ou bondinho) ou mesmo um mergulho na Praia Vermelha. É aquele tour do tipo: acertar ou acertar.
7. Cacique de Ramos (Ramos)
Fechando a série “Rio de Janeiro de graça”, eis uma autêntica e tradicional roda de samba da Zona Norte carioca. Criada no bairro de Ramos, em janeiro de 1961, a agremiação obteve uma relevância tão significativa para os rumos da música brasileira que foi tombada como Patrimônio Imaterial do Rio de Janeiro em 2010.
Foi ali, aliás, que surgiu uma importante geração de sambistas do País. Entre suas crias estão Zeca Pagodinho, Almir Guineto, Jovelina Pérola Negra, Jorge Aragão, Marquinhos Satã, Luiz Carlos da Vila, Arlindo Cruz, sem falar na madrinha do Cacique, Beth Carvalho.
Todo domingo tem a roda de samba do Cacique, das 17h às 23h, na sede da
agremiação, que fica na Rua Uranos, 1326, Ramos. Ela é gratuita, bem disputada e vale a pena para quem está em busca de uma experiência mais autêntica de imersão no samba carioca. Às vezes, ainda rola uma feijoada.
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Então, gostou das dicas? Para mais lugares gratuitos e bacanas no Rio dê uma olhada nessa lista (bem grandona, aliás) do blog Let´s Fly Away.
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