Expressão em inglês para “botar o pé na estrada”, a road trip sempre inspirou uma atmosfera de liberdades, novos horizontes, novos encontros, destinos a serem desbravados e muito vento na cabeleira dos viajantes.
Depois que Jack Kerouac resolveu passar a limpo sua lisérgica road trip cruzando estradas dos Estados Unidos e do México no livro “On the Road”, em 1957, o negócio passou a ficar ainda mais sério. A partir de então, viajar de carro em busca não de um destino, mas do prazer de experienciar o próprio caminho, passou a permear as mentes e os sonhos de gerações e gerações.
Beatniks, easyriders, motociclistas, hippies, caroneiros, dentre outros, passaram a difundir, por sua vez, movimentos, comportamentos e projetar uma produção cultural (e “contracultural”) refletida nas suas estórias, visões de mundo e contemporizações.
Na música, nenhum gênero se apropriou mais das road trips do que o rock. É inspirado nele que segue abaixo uma lista das “dez mais” do tema. São sugestões de algumas pérolas do rock internacional (a música brasileira ficou de fora já que merece um post a parte) que abordam ou induzem uma percepção dessa atmosfera. Uma lista baseada num critério subjetivo, claro, já que as opções são inúmeras nesse gênero que já bebeu muito dessa fonte. “Get your motor running”!
Playlist Road Trip – 10 clássicos do Rock
I Get Around (The Beach Boys)
Álbum: All Summer Long – 1964
Não haveria como deixar Beach Boys de fora dessa lista. As complexas harmonias vocais desses californianos dos anos 60 – por desconhecimento, subestimadas – inspiraram não só os Beatles, como também meio mundo, a surfar e botar o pé na estrada. Experimente “I Get Around” no último volume do dial do carro. Ela cura qualquer resquício de desencanto com a vida. O coro de vozes acutíssimo no refrão é uma ode à ingênua arte de simplesmente “sair pra dar uma volta”.
“Get around round round I get around”
Highway to Hell (AC/DC)
Álbum: Highway to Hell – 1979
Roadtripper que se preze jamais poderá dispensar esses acordes distorcidos do AC/DC de “Highway to Hell”. Nada mais Rock n’ Roll e pé na estrada ao mesmo tempo! Ainda que o refrão possa assustar aos mais desavisados, ao insistir que você está “na estrada para o inferno”, desencane. Tudo não passa da velha metáfora roqueira que, no fundo, no fundo, grita é por rebeldia e, acima de tudo, anseia cruzar fronteiras. Experimente, e quando notar você estará gritando no volante:
“I’m on the higway to hell!”
Scar Tissue (Red Hot Chili Peppers)
Álbum: Californication – 1999
Cruzar o deserto californiano chapado a bordo de um conversível até o sol cair. Poucos videoclipes sintetizam tão bem a alma “pós-grunge” do final dos anos 90 numa road trip digamos, desencanada, como o de Scar Tissue. Quase que dá para sentir na pele a ventania do deserto. A música em si, com os riffs de guitarra longos e preguiçosos, já ambientam essa atmosfera desde o primeiro compasso. O refrão é para cantar alto mesmo!
“With birds I share this lonely vieeeeeew”.
Roadhouse Blues (The Doors)
Álbum: “You Make me real” – 1970
Gravada em 1969 para um single lançado no ano seguinte, esse blues-rock dos Doors é perfeito para embalar a estrada. São muitas, aliás, as músicas da banda com referências a viagens de carro. Aqui, no caso, a letra faz da road trip uma metáfora para a vida. Grita, na língua do blues, para, na estrada ou no dia-a-dia, desencanar e deixar as coisas rolarem. Enfim, deixe-se levar pelos gritos roucos do blues-rock e pelos bends de gaita do The Doors!
“Let it roll, baby, roll!”
Where The Streets Have No Name (U2)
Álbum: The Joshua Tree – 1987
Roadtripper que se preza anseia alcançar o indizível, as estradas que ainda nem existem, onde as ruas não têm nome. Na verdade, a inspiração de Bono para a composição foi um pouco mais política. Especula-se que ela aborda o vício universal de se inferir a riqueza e classe social de alguém conforme o nome das ruas onde residem. Daí a busca utópica por um lugar “onde as ruas não têm nome”.
No entanto, em entrevista no lançamento de “Joshua Tree”, em 87, ao falar sobre a canção, Bono deu outra dica: “Me sinto muito claustrofóbico em uma cidade, um sentimento de querer fugir disso, de querer ir a algum lugar onde os valores da cidade, desse tipo de sociedade, não consigam me encarcerar.” Mais road trip, impossível!
“I want to run, I want to hide. I want to tear down the walls and hold me inside!”
Don´t Stop me Now (Queen)
Álbum “Jazz” – 1978
Música para levantar e sacudir a poeira. A letra é um amálgama eufórico e poético de metáforas sobre potência, velocidade, festa, sexo, diversão, para viver a vida intensamente e não parar nunca, nunca mais. Independentemente da intenção original na composição de Freddie Mercury, essa canção terminou por construir uma ambiência radicalmente vibrante e positiva, perfeita para embalar uma road trip.
“I’m gonna go go go…There’s no stopping me!”
Highway Star (Deep Purple)
Álbum: Machine Head – 1972
Essa é clássica das clássicas das road trips. Composta em 1972 pelos britânicos do Deep Purple, a música é uma ode a velocidade do início ao fim, inclusive no andamento e na levada digamos… “motorizada”. São seis minutos de som na última marcha. Cai como uma luva numa Autoban alemã! Em outras palavras, vai fundo, mas segura a onda na direção também. É som para ouvir no último volume!
“Nobody gonna beat my car / It’s gonna break the speed of sound”
Down Under (Men at Work)
Álbum: Business as Usual – 1981
Um epítome pop do espírito australiano. Apesar da letra irônica e crítica, terminou por tornar-se espécie de hino não oficial da Austrália. O clip de 82 é brega, a letra cômica, mas ainda assim não dá para deixar de fora essa road trip imaginária dos australianos mundo a fora, vendendo a imagem da mítica ilha ensolarada dos cangurus, “down under” (geograficamente abaixo) de todas as demais.
“Travelling in a fried-out Kombi / On a hippie trail, head full of zombie”
Guaranteed (Eddie Vedder)
Álbum: Into the Wild Soundtrack (2007)
Sinceramente, a trilha sonora inteira do filme “Into the Wild – Na Natureza Selvagem” (de Eddie Vedder, vocalista do Pearl Jam) caberia numa playlist de uma Road Trip. Mas não há espaço.
“Guaranteed”, porém, é a perfeita síntese de um dos mias belos álbuns já produzidos. Mas não a ouça nem na estrada. Reserve-a para aquele momento do cair do sol, debruçando o carro num mirante de montanha ou, quem sabe, no topo de um despenhadeiro sobre o mar. É pedir muito? Então esquece. Mas pare o carro. E a ouça de olhos fechados que daí você viaja a qualquer lugar.
“I’ve got my indignation, but I’m pure in all my thoughts / I’m alive…”
Born to be Wild (Steppenwolf)
Álbum: Steppenwolf – 1968
O grande hino das road trips. Gravada pelo Steppenwolf em 1968, a música virou tema do filme “Easy Rider” que marcou profundamente uma época. O filme terminou por catapultar ainda mais o sucesso da música. Símbolo da contracultura e do que passou então a ser conhecido como “easy rider”, Born to be Wild é carregada de riffs distorcidos e de um vocal rouco, algo muito original para a época. Basta ouvir o primeiro riff que já da vontade de sumir mundo a fora!
“You can climb so high / I never gonna die! ”
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